Fernando Sabino
— Ateu, não; agnóstico
— Pois eu te dou quinhentas pratas se você me disser o que quer dizer essa palavra.
— Ora, para começar você não tem quinhentas pratas. Estou conversando a sério e você me vem com molecagem. Acho que Deus é uma coisa, os padres outra.
O ranço das sacristias me enoja. Tenho horror ao bafo clerical dos confessionários!
O bem que a confissão pode nos fazer é o de uma catarse, um extravasamento, que a psicanálise também faz, e com mais sucesso. Estou mesmo com vontade de me especializar em psiquiatria.
— Só mesmo um doido te procuraria.
Mauro não pôde deixar de rir. Eduardo acrescentou:
— Você vai ter de se curar para depois curar os outros.
— É isso mesmo – concordou o outro, sério – Estou exatamente preocupado com o meu próprio caso. Já iniciei o que eu chamo de “a minha libertação”.
— E o que eu chamo de “a sua imbecilização”.
— Vista pela sua, que já é completa. O que eu chamo de libertação é a possibilidade de me afirmar integralmente, como homem.
O homem é que interessa. Se Deus existe, posso vir a me entender com ele, mas há de ser de homem para homem.