O GLOBO
Weintraub diz que protesto contra ele foi de ONGs que ‘caçam vagabundos, põem cocar e dizem que são índios’
Ministro da Educação, que foi alvo de manifestação ontem enquanto jantava com a família em Alter do Chão (PA), ganhou ato a seu favor hoje
Grupo fez ato pro-Bolsonaro um dia depois de protesto contra ministro Foto: Reprodução
O Ministro da Educação,Abraham Weintraub , afirmou nesta terça-feira que os protestoscontra ele na noite anterior, em Alter do Chão, no Pará, foram organizados por ONGs internacionais.
Weintraub, que está de férias,jantava com a família num restaurante quando foi abordado por um grupo de manifestantes na praça central da ilha.
Irritado, ele se levantou, pegou um microfone e discursou, mas acabou vaiado e aumentou a confusão.
Nesta terça, ele deu uma entrevista a veículos locais sobre o episódio, atribuindo-o a ONGs internacionais.
— É muito bonito aqui. É Brasil. O que aconteceu comigo e com a minha família, covardemente feito com as minhas crianças, não tem nada a ver com o Brasil e o brasileiro que a gente conhece.
São ONGs internacionais que estão aqui, ficam caçando vagabundo, põem cocar na cabeça e dizem que é índio.
O ministro afirmou que as ONGs teriam mobilizado os manifestantes de forma “totalmente artificial” e atacaram de surpresa.
Nesta terça, Weintraub ganhou apoio de um grupo pró-Bolsonaro, que organizou um ato no mesmo local em que o ministro foi confrontado um dia antes.
Um carro de som parou na praça onde houve a confusão na véspera e discursou contra a esquerda e a favor do combate à “doutrinação nas escolas e nas universidades”.
O ministro tirou uma semana para descanso e viajou para Alter do Chão.
Na entrevista à mídia local, ele elogiou a localidade — distrito de Santarém, muito conhecido por suas praias de rio— e fez questão de dissociá-la dos protestos.
— Isso não faz parte da realidade de Alter do Chão. Podem vir tranquilos. Não é um antro de drogas, não é um antro de gente de esquerda que quer fazer bagunça, balburdia. É seguro, é bonito. É Brasil, gente — afirmou Weintraub.
Lá, um grupo de ativistas do Engajamundo , uma organização social que atua no país inteiro, organizou uma manifestação.
De acordo com uma colaboradora, a intenção era que fosse pacífica e bem-humorada: duas mulheres segurando cartazes bem ao lado da mesa de Weintraub ofereceram uma kafta, em alusão ao episódio em que o titular da pasta confundiu o autor Kafka com o típico prato árabe .
— A gente nunca quis hostilizar nem humilhar — afirmou Hellen Joplin, colaboradora da ONG, que mobiliza jovens quilombolas e ribeirinhos da região.
— Quandou soubemos que ele estaria aqui, resolvemos fazer um protesto bem-humorado (contra os cortes na educação ) e pensamos em servir a kafta.
O ministro saiu da mesa, pegou um microfone (de uma dupla de cantores que havia parado a apresentação momentos antes) e fez um discurso.
— Estou com a minha família aqui, três crianças pequenas, nunca roubei, não sou do PT, pago do meu salário, trabalhei a vida inteira com carteira de trabalho, nunca recebi bolsa.
E aí vocês vêm tentar me humilhar na frente dos meus filhos, é isso que vocês são? — perguntou Weintraub, que emendou: — Não tenho passagem na polícia igual aos petistas. Não sou uma figura pública. Eu parei a minha vida para arrumar a bagunça que os petistas fizeram.